A partir da excessiva complexidade alcançada pelas operações de logística de transportes das industrias, comércio e agronegócios, houve a necessidade de elaboração de projetos customizados. A simples tarefa de contratação de uma transportadora já não fazia mais sentido sem o devido acompanhamento de um planejamento detalhado, incluindo também a gestão dos estoques, processamento de pedidos, localização dos estoques, redes de distribuição etc., trabalho executado pelos operadores logísticos. Diante disso, os operadores logísticos incorporaram mais uma competência, a elaboração de projetos logísticos para os usuários do sistema logístico de transportes.
Quando as empresas usuárias lançam um IFB (invitattion for bid que significa convite para apresentação de proposta ou lance), ou comumente chamado de Bid, as operadoras logísticas pré-selecionadas apresentam as suas propostas. Ocorre que algumas destas propostas, de tão complexas exigem a apresentação de projetos altamente qualificados, envolvendo as mais diversas áreas de operações, inclusive estudos tributários. O esforço empregado pelas operadoras na elaboração desses projetos é enorme, pois demandam tempo e envolvimento de profissionais caros e de pacotes computacionais igualmente caros (otimizadores, simuladores e pacotes de tratamento estatístico). Até aqui, tudo ocorre dentro do previsto em ambientes constituídos de elevada competitividade, porém o problema começa a surgir a partir das exigências por ocasião da apresentação desses projetos aos potenciais clientes.
A falta de conhecimento acerca de logística de transportes pelos profissionais das empresas usuárias do sistema logístico (industria, comércio, agronegócios, etc.), desencadeia uma série de solicitações de esclarecimentos de várias etapas do projeto por partes desses profissionais. As operadoras, na busca de maior aproximação junto aos potenciais clientes, acabam por revelar as vantagens competitivas inerentes a inteligência aplicada no projeto, realizando uma verdadeira transferência de conhecimento. O pior é que este fato ocorre sem que na maior parte das vezes, haja uma contrapartida de contratação dos serviços do operador que apresentou o projeto mais competitivo, muito menos o pagamento do investimento de tempo dos profissionais na elaboração do projeto. Literalmente se obtém as vantagens competitivas apontadas nos projetos e alguns usuários, por pura falta de ética, negam o projeto a empresa autora e buscam um operador que se propõe a realizar o serviço pela menor tarifa. Em conversas com algumas empresas operadoras logísticas, percebi o desânimo proporcionado pela falta de resultados da sua área de projetos, embora tais projetos sejam altamente qualificados. Certamente esta prática trará resultados ruins para os próprios usuários. Embora eu faça questão de não elaborar projetos logísticos de transportes e distribuição, pois prefiro repassar este assunto aos meus alunos de pós-graduação, há um bom tempo venho notando essa prática. Há cerca de meio ano atrás, soube de uma grande empresa que lançou um Bid apenas para realização de Benchamarking das suas operações. Isto é um absurdo.
Sugiro que as empresas operadoras que possuem elevada capacidade de realização de projetos competitivos, mostrem apenas os resultados obtidos e se abstenham de revelar a forma de obtenção das vantagens competitivas. Uma boa opção para este problema seria a cobrança de um considerável valor pela “abertura” dos segredos do projeto. Outra opção seria a transferência da competência de elaboração de projetos para a empresa usuária, via capacitação dos profissionais de logística de transportes e distribuição. Continuar dessa forma é permitir que a falta de ética profissional se instale no ambiente logístico.
Por:
Mauro Roberto Schlüter
Diretor do IPELOG
mauro@ipelog.com
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