domingo, 14 de agosto de 2011

MAE DAS BATALHAS – 6.12.2007 POR MIRIAN LEITAO

Se ganharmos todas as batalhas, menos a da educação, perderemos a guerra. Se tivermos os melhores fundamentos macroeconômicos, mas os jovens não entenderem o que lêem, não haverá futuro. A educação é a mãe de todas as lutas. Uma economia em recessão pode se recuperar mais adiante, pelo próprio movimento de ciclos; perder o cérebro de uma geração inteira e fatal.
Esta difícil escrever hoje. Há dias assim: piores, dolorosos. O Senado se abastarda nos conchavos, as prisões oferecem ao país cenas medievais, a violência colhe suas vitimas indefesas nas ruas, por insensatez e descuido destruímos a Amazônia. Tudo aflige. Mesmo assim, é possível achar que isto e conjuntural.
Sonhar que um dia escolheremos senadores que nos orgulhem, construiremos prisões onde criminosos paguem suas dívidas com a sociedade de forma civilizada, que a indignação seja tamanha que nunca mais uma menina seja trancada numa cela com homens. Mas como se proteger do pessimismo diante do teste Internacional de PISA? Isto derrota.
Perdemos para o Chile e para o México. Perdemos para quase todos, em quase tudo. Retrocedemos na mais fundamental das habilidades: A LEITURA. Há 500 anos, o sistema educacional se estruturou em torno do livro, mas o Brasil, no começo do século XXI, não consegue capturar os estudantes para o prazer da leitura. Prazer que meus pais e professores me ensinaram na infância e ao qual tributo cada um dos meus êxitos. Quem não lê não pensa bem. Quem não é ensinado a pensar jamais vai realizar seu potencial. Seguirá apequenado, subutilizado, subdesenvolvido. Um país de apequenados jamais será grande.
Quando alguns alunos falham, a culpa pode ser do aluno; mas quando tantos falham, foi a escola que fracassou. Há tantos motivos para a nossa descrença educacional que é difícil saber por onde começar.
O Brasil gasta mais por aluno do ensino superior que vários países no mundo. O Governo Lula aumentou de 70% para 75% a fatia do bolo federal da educação que vai para as universidades, quando a nossa tragédia começa no fundamental. Alguns professores gastam mais tempo se mobilizando por melhores salários e reivindicações da categoria que na educação dos alunos. Os livros didáticos foram contaminados por ideologias de terceira categoria. Mestres se aposentam cedo demais, e o Brasil perde a maturidade de suas vocações, o auge do seu conhecimento. Muitas famílias não se envolvem com a educação dos filhos, achando que isso é obrigação das escolas. A classe média paga colégio particular, debita uma parte do gasto no Imposto de Renda, não cobra qualidade da escola que paga, depois o filho num bom cursinho para não gastar com a universidade. Os muito ricos escapam da sina coletiva alienando os filhos em escolas estrangeiras.
Governos acham, como o atual, que deve mudar as políticas anteriores apenas por idiossincrasias político-partidárias. Empresas pensam que, se forem exigentes nos seus processos de seleção, serão competitivas, mas começam a descobrir que não tem onde fazer sua seleção. A incapacidade administrativa, paralisa bons projetos, como o da informatização das escolas, cujo financiamento foi esterilizado no Fust (Fundo de Universalização de Serviços de Telecomunicações). Ministros pedem mais dinheiro sem oferecer em troca qualquer melhoria de gestão.
Alunos passam de ano sem ter aprendido, só porque reprovar não e politicamente correto. Imposto para qualificar o trabalhador financia sindicato de trabalhador; Fundo de Amparo ao Trabalhador financia empresas. Nosso único acerto na ultimas décadas foi universalizar o ensino, ainda que tarde.
A tragédia da educação pode ser vista pela economia. Na era do conhecimento, a mais importante habilidade a desenvolver a capacidade de pensar, o que só se consegue com educação de qualidade. Na era da Globalização, as empresas tendem a espalhar pelos países etapas do seu processo produtivo, escolhendo cada local pela vantagem competitiva. Um país sem cérebros treinados ficara com o que há de mais tosco, com as etapas de menos valor agregado e menores salários. Os países competem por localização de investimento e mercados. Um país com uma mão de obra sem qualificação inevitavelmente perderá a competição.
Mas o mais relevante não e a economia. Um se humano não apenas a sua força de trabalho. A educação não e só treinamento de trabalhadores, por mais importante que isto seja. A educação e única forma permanente de redução de desigualdades. O Trabalhador que esta hoje em alguma fazenda sendo escravizado ou submetido a trabalho degradante foi aprisionado na cadeia do analfabetismo. O ribeirinho que esta com uma arma na cabeça na Amazônia, tendo que abandonar sua terra para que o grileiro ocupe tudo para desmatar, não sabe nem ler o documento que lhe apresentam para assinar. É a ignorância que o torna escravo. É a ignorância que desampara.
A educação é, sobretudo , a forma de realização plena das tantas e tão versáteis capacidades humanas. Mais que treinar o trabalhador, forma o cidadão, amplia horizontes, alimenta ambições. Por isto é a mãe de todas as batalhas. Nós a estamos perdendo no momento mais decisivo da construção do país, quando a maioria da população, é jovem. Temos em idade escolar(no ensino fundamental e médio), 37 milhões de brasileiros. E eles estão em perigo.

Livro Convém Sonhar de Miriam Leitão – A Mãe das Batalhas – Pags 226...

Desde ja agradeço pela atenção

Junior Cavalca - Divelog Soluções em Logística

Nenhum comentário: