terça-feira, 10 de junho de 2008

Julio Simões compra o Grupo Grande ABC

Fonte: Gazeta Mercantil 2/6/2008

Está se consolidando a maior operadora de transporte e logística do País com o acordo de compra, pela Julio Simões Transportes e Serviços, de 70% do controle da Transportadora Grande ABC. A negociação, que vinha sendo encaminhada há vários meses, teve desfecho na terceira semana de maio, véspera do feriado de Corpus Christi, em São Bernardo do Campo, ABC paulista, sede da Grande ABC, fundada em 1973 pelo empresário Antônio Caetano Pinto.
Pelo acordo celebrado, a Julio Simões assume 70% do controle de todo o grupo Grande ABC, que reúne um total de sete empresas. Antonio Caetano Pinto, 59 anos, ficará até o final do ano na presidência, quando vence o prazo para exercer a opção de permanecer ou se desligar do negócio. "Gostaríamos muito que ele ficasse", diz Fernando Simões, 41 anos, vice-presidente do Grupo Julio Simões.
A Julio Simões, com a compra, põe seu negócio de transporte e logística na casa de R$ 1,5 bilhão de faturamento anual - de longe o maior do País - e, com isso, antecipará para 2009 a meta traçada para 2010 de chegar a R$ 3 bilhões de faturamento para o grupo todo. O conglomerado, fundado há mais de 52 anos pelo português Julio Simões, sem a compra da Grande ABC estava prevendo um faturamento de R$ 2,3 bilhões no total (R$ 1,3 bilhão para os braços de transporte e logística).
Na noite da última quinta-feira em um hotel no Itaim, em São Paulo, os dois empresários que conduziram desde início as negociações, Fernando Antonio Simões, vice-presidente da Julio Simões, e Antonio Caetano Pinto, da Grande ABC, receberam a Gazeta Mercantil para uma entrevista em que falaram sobre o negócio.
Gazeta Mercantil - Por que a compra da Grande ABC?Fernando Antonio Simões - Nunca escondemos que buscávamos consolidação, musculatura para crescer. A Grande ABC tem os requisitos. Entre outros atributos, é líder em logística na cadeia automotiva, tem carteira diversificada de clientes e serviços, opera estações aduaneiras, e na sua empresa Selpa, é sócia da alemã Schnellecke Logística na gestão do Centro de Peças e Acessórios da Volkswagen, com 132 mil m² construídos e que opera 110 mil itens.
Gazeta Mercantil - Por que a venda da Grande ABC? Antonio Caetano Pinto - Posso dizer que estou feliz, pois, com essa decisão, estou assegurando futuro do grupo que criei. A união fortalece as duas empresas e ambas passam a ter sobrevida. Quando me perguntam se lembro do primeiro caminhão que comprei, respondo que não. Lembro, isso sim, das pessoas que começaram comigo, até porque nosso negócio é feito de gente e por gente. Entendo, pois, que o acordo que assinamos significa continuidade do negócio. Gazeta Mercantil - Recentemente, Antonio, você dizia para a Gazeta Mercantil que a Grande ABC era muito assediada por compradores. A oferta da Julio Simões foi a mais sedutora? ACP - De fato o assédio era generalizado e vinha de vários operadores logísticos, alguns internacionais. Mas, no final, depois de longo tempo de idas e vindas, acabamos optando pelo negócio com o grupo Julio Simões, como nós, também brasileiro.
Gazeta Mercantil - Quanto tempo demorou a negociação? FAS - É um ‘namoro’, digamos, antigo. O primeiro contato, mais superficial, foi há cinco anos, mas não evoluiu. Há um ano, passamos a dar um passo mais efetivo, uma parceria no trabalho de puxar contêineres na rota Santos-São Paulo. Há seis meses as negociações passaram a ser mais intensas e culminaram na terceira semana de maio com o acordo que acabamos por selar.ACP - Avançamos muitas madrugadas de negociações. Houve momentos difíceis, mas acabou prevalecendo um acordo que agradou as duas partes. Gazeta Mercantil - Com a aquisição, o grupo agrega quanto ao seu faturamento?
FAS - Estávamos prevendo chegar com nossa área de logística a R$ 1,33 bilhão em 2008. Com a agregação da Grande ABC vamos passar de RS 1,5 bilhão. Só em serviços logísticos na cadeia automotiva - que é o forte da Grande ABC - as duas empresas juntas passam a faturar cerca de R$ 250 milhões por ano.
Gazeta Mercantil - O que a Grande ABC agrega de valor ao grupo Julio Simões? ACP - Trazemos toda uma estrutura de terminais, de serviços de intralogística, estações aduaneiras, expertise que a Julio Simões não tinha. Tais áreas têm potencial incomensurável de crescimento.
Gazeta Mercantil - E quais outras sinergias que virão com a associação? FAS -- Vamos avaliar com calma. Queremos saber as reais necessidades ao longo do tempo e, só aí, extrair possíveis sinergias. Isso, contudo, preservando a cultura das empresas. O que vamos ganhar, naturalmente, é em escala de compras. Nesse aspecto vamos efetivamente ter vantagens. A Julio Simões, sozinha, em 2008, vai comprar R$ 405 milhões em caminhões para frota própria e automóveis para locação. Com a Grande ABC teremos ainda mais volume. Só de diesel, passaremos a consumir 6,8 milhões de litros mensais.
Gazeta Mercantil - Recentemente, Fernando, você dizia que crescer, consolidar, é uma forma de competir num mercado muito pulverizado. Dizia mais: esse mercado, de transporte e logística, é muito informal. Uma maneira de competir é ter escala de compra para baixar custos e poder competir com estrutura e baixo custo.FAS - Efetivamente, ganho de escala é essencial. Com a Grande ABC vamos passar a comprar cerca de mil caminhões por ano, passaremos dos R$ 14 milhões por ano em aquisições de pneus para cerca de R$ 20 milhões...
Gazeta Mercantil - A Julio Simões utilizou financiamento para a aquisição? Recorreu a quais bancos? FAS - De início não entra dinheiro no negócio, ou seja, um não paga ao outro. O combinado é que a Julio Simões de imediato assume a parte administrativa e financeira da Grande ABC e, como tal, fará os desembolsos que se fizerem necessários. Os recursos que utilizaremos para isso virão do Bradesco e Banco do Brasil.
Gazeta Mercantil - O grupo Julio Simões tinha 10 mil empregados com a Grande ABC sobe para 14 mil? Haverá sinergia de pessoal? FAS - A Julio Simões tem 12 mil funcionários que somados aos 2,5 mil da Grande ABC resultam em 14,5 mil colaboradores. Como temos muitas oportunidades para crescer, ao invés de cortar, vamos criar mais empregos.
Gazeta Mercantil - Não é um temor crescer numa atividade que depende visceralmente de uma infra-estrutura que anda a passos de tartaruga? FAS - O crescimento da Julio Simões e Grande ABC vem da agregação de serviços e da inteligência de processos. ACP - Os desafios dão mais importância e relevância à logística. Veja o caso do problema de trânsito em São Paulo. Na medida em que se agrava, temos que encontrar soluções, criar armazenagem adicional. Ou seja, a crise gera oportunidades para a logística.
Gazeta Mercantil - Em 2007 a Julio Simões comprou integralmente a Lubiani Transportes. Agora, assume o controle majoritário da Grande ABC. Essas empresas serão mantidas com suas identidades ou passarão a ser braços sob o guarda chuva de logística do Grupo Julio Simões? FAS - Estamos mantendo a identidade da Lubiani. Faremos o mesmo com a Grande ABC. Com a Lubiani, ampliamos nossos horizontes, pois se trata de uma empresa que, por exemplo, tem entre suas especialidades transportes de maquinas pesadas, de produtos do agronegócio e da área de mineração.
Gazeta Mercantil - Como ficará a estrutura organizacional? FAS - As áreas operacional, comercial e de projetos logísticos da Grande ABC ficarão independentes, ou seja, mantêm vida própria. Já as áreas de administração e financeira passam a ficar sob o controle direto da Julio Simões.
Gazeta Mercantil - Você vê possibilidade de se manter no grupo Julio Simões além de dezembro? ?ACP - O acordo estabelece que eu fique até dezembro. Até lá vou me dedicar, respeitar o compromisso, mas certamente não quero ficar os 20 anos sugeridos pelo Fernando (risos).
Gazeta Mercantil - Depois da Lubiani e da Grande ABC vêm mais aquisições? O grupo, nos novos passos, admite abrir o capital como forma de alavancar a expansão??FAS - Estamos sempre atentos a novas oportunidades. Nossos balanços são há algum tempo auditados pela consultoria Terco Grant Thornton. Atendemos inúmeros setores, florestal, mineração, automobilístico, com foco em atender bem o cliente do nosso cliente. Nosso negócio exige capital intensivo. Nesse sentido, se para crescer, consolidar, for preciso abrir o capital, não tenha dúvidas: partiremos para esse caminho.
Gazeta Mercantil - A Júlio Simões vinha crescendo a taxas de 25% ao ano sem aquisições. A política, com as aquisições, é manter o ritmo de 25% de crescimento?FAS - De fato, nos últimos 12 anos crescemos a uma taxa de 25% ao ano. Acreditamos que nos próximos anos possamos manter o mesmo ritmo.

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